Ainda é tão cedo para tu ires e já é tão tarde para eu dizer que te amo. Cuida sempre de mim como eu não fui capaz de cuidar de ti. Nunca te esqueças de mim que eu nisso vou honrar-te e hei-de trazer-te sempre comigo. Ou então, surpreende-me, dá-me uma lição e ensina-me que é até ao fim que se acredita, para que depois chegue um novo começo, uma nova oportunidade de dizer tudo o que antes se calou.
Ante-continuação
Lembrava-se perfeitamente da primeira vez em que os seus olhos a levaram até ele. Não conseguiria jamais apagar da sua memória aquele momento em que, originalmente na sua vida, sentira um interesse atrevido por alguém.
Eram ambos jovens. As idades eram próximas, ele contavam mais dois ou três anos que ela, quem sabe quatro. Porém, ela era mais velha. As tão faladas agruras da vida, às vezes mais extrapoladas que consumadas, tinham-na afectado sem piedade. Um lar desfeito, palavras cruéis para ouvidos desamparados, privações de toda a espécie. Mesmo assim, manteve-se firme na sua senda, não se aventurou por caminhos duvidosos nem preferiu atalhos. “Quem se mete em atalhos, mete-se trabalhos.” Dos trabalhos dos atalhos ela fugiu, do trabalho sem atalho não.
Estava sentada na mesa do café da moda a alimentar o único vício que o passado desastroso lhe deixara. Puxava umas baforadas de fumo de um cigarro, depois de outro e mais outro até dar cabo de meio maço, em dias piores de um inteiro. Foi quando num balançar de cabeça fortuito deu de caras com ele, o tal de quem todas as raparigas em idade de histeria hormonal falavam, o mesmo por quem suspiravam e, certamente, a personagem principal dos sonhos tórridos de muitos desses corpos angelicais habitados por almas libertinas.
Não era, de modo algum, a perfeição em forma de gente. Talvez até nem tivesse um rosto bonito, de feições harmoniosas. Tinha pele morena, cabelo escuro de corvo e estatura mediana, embora sólida. Era mais exótico que belo. Cativava com o olhar fundo, a cara de poucos amigos que mais parecia uma máscara daquelas que se usam quando se quer esconder a pureza dos sentimentos, a validade dos ideais, a integridade da conduta, mas que deixam sempre uma brecha que, mesmo ínfima, quase muda, diz mais que tudo o resto. Naquele instante, sem saber, ele apelou de forma irremediável aos sentidos dela. Também ela usava uma máscara, uma armadura, e deixou-a cair sem estrondo, mas com um alívio profundo. Esqueceu-se das promessas onde decidira nunca mais confiar em ninguém, esqueceu-se que tinha jurado conformar-se com a menor infelicidade, a felicidade possível.
Junto ao balcão ele preparava-se para queimar mais um cigarro. Na mesa ela esquecia. Esquecia-se de tudo o que tinha conhecido até àquele dia. Esqueceu-se da reserva, da timidez. Esqueceu-se até do isqueiro guardado com os cigarros e dos outros dois espalhados na mala quando puxou a cadeira para trás, ergueu o corpo e elevou o espírito, caminhou decidida até ao balcão de fórmica vermelha e disse, sem fraquejar: “Tens lume?”. Acendeu ele o isqueiro, acendeu-se nela a chama da paixão, que existe mesmo e não é lenda. É a única que queima sem lacerar e que, quando fere, é porque se apagou.
Eram ambos jovens. As idades eram próximas, ele contavam mais dois ou três anos que ela, quem sabe quatro. Porém, ela era mais velha. As tão faladas agruras da vida, às vezes mais extrapoladas que consumadas, tinham-na afectado sem piedade. Um lar desfeito, palavras cruéis para ouvidos desamparados, privações de toda a espécie. Mesmo assim, manteve-se firme na sua senda, não se aventurou por caminhos duvidosos nem preferiu atalhos. “Quem se mete em atalhos, mete-se trabalhos.” Dos trabalhos dos atalhos ela fugiu, do trabalho sem atalho não.
Estava sentada na mesa do café da moda a alimentar o único vício que o passado desastroso lhe deixara. Puxava umas baforadas de fumo de um cigarro, depois de outro e mais outro até dar cabo de meio maço, em dias piores de um inteiro. Foi quando num balançar de cabeça fortuito deu de caras com ele, o tal de quem todas as raparigas em idade de histeria hormonal falavam, o mesmo por quem suspiravam e, certamente, a personagem principal dos sonhos tórridos de muitos desses corpos angelicais habitados por almas libertinas.
Não era, de modo algum, a perfeição em forma de gente. Talvez até nem tivesse um rosto bonito, de feições harmoniosas. Tinha pele morena, cabelo escuro de corvo e estatura mediana, embora sólida. Era mais exótico que belo. Cativava com o olhar fundo, a cara de poucos amigos que mais parecia uma máscara daquelas que se usam quando se quer esconder a pureza dos sentimentos, a validade dos ideais, a integridade da conduta, mas que deixam sempre uma brecha que, mesmo ínfima, quase muda, diz mais que tudo o resto. Naquele instante, sem saber, ele apelou de forma irremediável aos sentidos dela. Também ela usava uma máscara, uma armadura, e deixou-a cair sem estrondo, mas com um alívio profundo. Esqueceu-se das promessas onde decidira nunca mais confiar em ninguém, esqueceu-se que tinha jurado conformar-se com a menor infelicidade, a felicidade possível.
Junto ao balcão ele preparava-se para queimar mais um cigarro. Na mesa ela esquecia. Esquecia-se de tudo o que tinha conhecido até àquele dia. Esqueceu-se da reserva, da timidez. Esqueceu-se até do isqueiro guardado com os cigarros e dos outros dois espalhados na mala quando puxou a cadeira para trás, ergueu o corpo e elevou o espírito, caminhou decidida até ao balcão de fórmica vermelha e disse, sem fraquejar: “Tens lume?”. Acendeu ele o isqueiro, acendeu-se nela a chama da paixão, que existe mesmo e não é lenda. É a única que queima sem lacerar e que, quando fere, é porque se apagou.
Julho2009
Sabia-o de cor.
Sabia-o de cor. De todos os homens que lhe tinham passado na vida, uns a correr, outros em velocidade de cruzeiro, aquele era o único que já não lhe escondia segredos. Pelo contrário, guardava-os com ela.
Não havia nenhuma expressão órfã, cada mudança nas feições dele fazia-a adivinhar o redemoinho que lhe arrasava o peito ou o torpor doce de quem está em paz com os outros, mas principalmente consigo. Em ninguém mais surgia aquela covinha no lado direito da face, que ia aumentando enquanto ele passava do sorriso à gargalhada. Se Deus lhe roubasse os olhos da cara, ela usaria os das mãos. De entre 1000 homens, ela acharia aquele que agora sabia seu, bastando para isso percorrer-lhe o peito, que era seu cofre, os braços, que eram seu forte. Ninguém mais tinha aquele tom, a pele de ninguém cheirava como a dele.
Nenhum homem é só corpo e mais admirável que saber de memória as linhas do corpo, é saber os traços da alma. E ela sabia os dele. Sabia o que o comovia, o que o afundava num estado de exasperação profunda. Sabia o que o acalmava, sabia o efeito que as palavras bonitas e sinceras tinham no seu génio e usava-as como tempero naquela receita em que ambos se envolviam, se misturavam, se apimentavam e salgavam sem que nunca passassem do ponto de rebuçado.
Ela sabia-o de cor, corpo e alma, o que é físico e o que é mais que isso. Sabia tudo e não tinha medo do que sabia, das sombras que repousavam inquietas debaixo do sol da sua vida. Sabia que o amava, a cada dia aprendia novas formas de amor e ele era o melhor professor. O melhor professor para a aluna mais aplicada. O melhor ouvinte para uma apaniguada da confissão. O melhor amigo para a cultora mais atenta da semente da amizade. O melhor amante para a mulher mais amável. A peça em falta para o puzzle por completar. O cigarro para o café, a framboesa para o chocolate, a água para o deserto, o pão para a fome!
Sabia-o de cor mesmo no dia em que ele partiu. Para sempre. Ele partiu e, porque ela só o sabia a ele, deixou-a sem saber nada de si.
Ficaram a ignorância, o vazio, a perdição. Não é nada que se saiba, é tudo o que não se quer, ou devia, sentir.
Não havia nenhuma expressão órfã, cada mudança nas feições dele fazia-a adivinhar o redemoinho que lhe arrasava o peito ou o torpor doce de quem está em paz com os outros, mas principalmente consigo. Em ninguém mais surgia aquela covinha no lado direito da face, que ia aumentando enquanto ele passava do sorriso à gargalhada. Se Deus lhe roubasse os olhos da cara, ela usaria os das mãos. De entre 1000 homens, ela acharia aquele que agora sabia seu, bastando para isso percorrer-lhe o peito, que era seu cofre, os braços, que eram seu forte. Ninguém mais tinha aquele tom, a pele de ninguém cheirava como a dele.
Nenhum homem é só corpo e mais admirável que saber de memória as linhas do corpo, é saber os traços da alma. E ela sabia os dele. Sabia o que o comovia, o que o afundava num estado de exasperação profunda. Sabia o que o acalmava, sabia o efeito que as palavras bonitas e sinceras tinham no seu génio e usava-as como tempero naquela receita em que ambos se envolviam, se misturavam, se apimentavam e salgavam sem que nunca passassem do ponto de rebuçado.
Ela sabia-o de cor, corpo e alma, o que é físico e o que é mais que isso. Sabia tudo e não tinha medo do que sabia, das sombras que repousavam inquietas debaixo do sol da sua vida. Sabia que o amava, a cada dia aprendia novas formas de amor e ele era o melhor professor. O melhor professor para a aluna mais aplicada. O melhor ouvinte para uma apaniguada da confissão. O melhor amigo para a cultora mais atenta da semente da amizade. O melhor amante para a mulher mais amável. A peça em falta para o puzzle por completar. O cigarro para o café, a framboesa para o chocolate, a água para o deserto, o pão para a fome!
Sabia-o de cor mesmo no dia em que ele partiu. Para sempre. Ele partiu e, porque ela só o sabia a ele, deixou-a sem saber nada de si.
Ficaram a ignorância, o vazio, a perdição. Não é nada que se saiba, é tudo o que não se quer, ou devia, sentir.
14 de Julho de 2009
Adriana de Ascensão Pereira
[...]
Faltam-me palavras e eu não sei onde as procurar. Até já desisti dessa demanda porque, muitas vezes, só podemos encontrar quem, o que quer ser descoberto. Não é que o tédio seja tão forte que me deixe vazia, não é que a euforia seja desmesurada e que, com tanta alegria, nem conheça forma de a descrever. Talvez seja mais a apatia de ter tudo o que preciso, não tendo quem queria. Talvez sejam os dias de férias sem agenda, à espera da vontade súbita de devorar livros, do convite a que quero fugir ou da mensagem que não chega e que me desespera. Quem sabe não é o cansaço do costumeiro “mais do mesmo”: os planos, as expectativas e os enredos escritos na minha ideia que nunca se cumprem, nunca se superam e nunca conseguem actores que os representem. Nisto não sou pelos monólogos; prefiro dividir o estrelato com alguém, sem competir ou invejar. É como se apenas eu tivesse passado no casting para esta peça. Pior, é como se esta peça, de tão corriqueira, apenas despertasse desprezo junto dos actores que eu, enquanto encenadora, acharia perfeitos para o papel de me acompanharem na gargalhada e no pranto, de me emprestarem o ombro quando a dor fosse muita, de me darem o beijo terno que salva da morte as princesas (e as não-princesas) malfadadas.
Faltando-me as palavras, não me falta que dizer. Pudera eu contar tudo e talvez o aperto passasse, talvez me encontrasse… ou talvez quebrasse o encanto da angústia de quem espera, e sabe, que a resposta e as palavras que faltam vão aparecer depois, quando bem o quiserem, quando assim o entenderem.
Faltando-me as palavras, não me falta que dizer. Pudera eu contar tudo e talvez o aperto passasse, talvez me encontrasse… ou talvez quebrasse o encanto da angústia de quem espera, e sabe, que a resposta e as palavras que faltam vão aparecer depois, quando bem o quiserem, quando assim o entenderem.
Hipoteca
Hipotecas não são só sobre casas, terrenos e frigoríficos. Também se hipotecam futuros. Eu hipotequei o meu quando me deixei levar pela preguiça e decidi não estudar um bocadinho mais que fosse de música. Se tivesse estudado, continuaria a gostar muito de engenheiros, mas certamente que não me juntaria a eles. Se tivesse aprendido algo mais, não precisava de exames e sim de pré-requisitos. Se me tivesse dedicado, não teria arregalado os olhos, que depois ficaram molhados, mal vi as atrocidades (para uma ignorante como eu, óbvio) pedidas na ESMAE.
Agora faltam-me conhecimentos porque antes me faltou coragem.
Ignorância
A ignorância é uma coisa... tramada, vá.
Não me refiro à minha possível ignorância sobre as matérias de Português e Matemática sobre as quais terei exames, mas àquela ignorância de andar aqui sem saber como é que as coisas evoluíram a partir do momento em que dissemos "Para mim chega!". Porque a verdade é que, mesmo bastando e mesmo tentando não ligar, há sempre um pedacito qualquer de mim que se enche de urticárias mal começo a extrapolar e a magicar sobre como é que estarão as coisas.
Sempre tive (e continuo a ter) muito medo de fazer figura de estúpida, de obtusa, de ser tipo corno chamuscado ("eu punha as mãos no fogo por fulaninho de tal!"), embora aqui não estejam em causa cornaduras e outras adornos do frontispício superior. (In)Felizmente que tenho um instinto danado! Podem-me chamar fantasiosa, muito imaginativa ou romanesca que eu aceito sem qualquer problema ou crise de identidade. Em muitos momentos é mesmo isso que eu sou. No entanto, isso não invalida as minhas razões para ser assim, muito menos compromete os indícios em que me baseei para começar o meu filmezito. Tem batido sempre tudo certo, tem dado sempre a letra com a careta. Sim, possivelmente com um número bastante menor de pormenores e acontecimentos, mas o cerne, o âmago, a essência... Bem, esses são mais certos que o Natal em Dezembro para os católicos deste mundo e para os que já estão no outro.
No fundo, os meus filmezitos são a minha arma contra esta ignorância forçada de não querer mesmo saber, mas que, pudesse eu, me faria arrancar uns quantos de olhos para saber de tudo, ipsis verbis, tim tim por tim tim. Quando me sinto ignorante junto as pecinhas todas, analiso comportamentos porque de Psicologia e Sociologia percebo eu, lembro-me de frases estranhas, ponho tudo em contexto et voilá! Dias depois lá surge a confirmação e eu até posso ficar pelas ruas da amargura por causa daquilo que se atestou. Porém, há também aquela coisa de ter razão, (porque eu adoro ter razão!), de ver um raciocínio exímio ser ratificado da melhor maneira possível, ou seja, resultando numa conclusão verdadeira assente em premissas válidas e pouco ou nada falaciosas.
Posto termo à ignorância, é a partir daqui que se (me) coloca aquele dilema, que se resume logo numa frase impregnada de arrependimento, auto-comiseração e, por vezes, recalcamento: "Fogo (quando não for calão), mais me valia ter ficado na ignorância!".
E pronto.
Assim... variado.
1º - Há gente muito parvinha. Então são avisados e insistem no erro? Isso é quê, uma variante qualquer do masoquismo? Até já é caricato e, mais que isso, ridículo. O que vale é que sou eu que me rio.
2º - Pensando melhor, não sei se ria, se chore. Faltam dois dias para o fim das aulas, esquecendo os exames. Tantos hábitos, tantos vícios, tantas pessoas que se vão... Não fico triste, mas talvez seja porque tento nem me lembrar que vou deixar de ter os pequenos-almoços de segunda, as quintas na Brasileira, as tardes de ócio, as tiradas do Manu, a Raquel e a Beta a esperarem por mim ou eu por elas, os discursos do prof. Antero, os "tá bom? Hã?" da professora de Matemática, os testes de Português, os quilómetros e quilómetros a percorrer até chegar à casa de banho, mais uma série de coisas bonitas e outras nem tanto, mais um chorrilho de parvoíces e assuntos sérios... Eh pá, eu vou para a faculdade e estou cheia de medo.
3º - Eu achava que gostava de piano. Hoje, pá... Hoje já não sei.
Foste .
Foste e eu deixei, acho que pouco me importou e nem sei se sentirei a tua falta.
Quer minta, quer diga a verdade a mentir, foste e eu não te impedi, até te fiz saber que a porta da rua é a serventia da casa, não importa que casa seja essa.
Foste, mas um dia gostava que voltasses.
Quer minta, quer diga a verdade a mentir, foste e eu não te impedi, até te fiz saber que a porta da rua é a serventia da casa, não importa que casa seja essa.
Foste, mas um dia gostava que voltasses.
Da escola e das saudades
Tenho sido muito céptica em relação a saudades que poderia ou posso vir a ter das escolas que deixei ou vou deixar. Quando terminei o 9º ano fui obrigada a mudar de escola e em boa hora chegou essa contingência porque 5 anos já era mais do que eu podia aguentar. Conheci óptimas pessoas, os meus primeiros amigos a sério conheci-os lá. Tive professores bons e menos bons, em ambos os casos marcantes, e havia funcionárias tão queridas que até as tinha como avós! Passei pelos primeiros grandes apertos da vida de estudante, as provas globais que tanto transtorno me causaram, depois os exames, o começar a pensar em médias quando elas nem sequer interessavam... Tudo passou e posso dizer, com mérito e orgulho, que fui uma boa aluna, daquelas que deixam os papás orgulhosos e os professores descansados.
A verdade é que não tenho saudades desses tempos, nem da escola, nem das pessoas. Há momentos em que tento esconder este desprendimento, mas não consigo entender aquela altura, aquelas pessoas, aquele edifício como sendo mais do que uma fase. E as fases foram feitas para passarem, umas vezes para nosso gáudio, outras para nosso descontentamento.
Mesmo que goste de reencontrar amigos que trago na ideia e no coração com muito carinho e que conheci entre os 10 e os 14 anos, não sinto nada que se pareça a saudades. Talvez uma certa nostalgia, mas daquela banal, que temos por tudo o que já passou. Talvez um grande alívio, porque caramba!, aquilo já está feito. Saudades é que não.
Hoje dei por mim a pensar. Estou no 12º e frequento uma das escolas mais conhecidas do Porto, a mesma que foi, em tempos, uma das três mais prestigiadas do país. Pela escola que frequento, nos corredores por onde erro passaram muitos nomes sonantes da nossa praça. Gente brilhante, gente bem sucedida, gente exemplar, gente não tão conhecida e gente que me é chegada, mas todos alunos da escola da qual eu me estou quase a despedir.
Se gostei muito do 10º ano, vi no 11º um dos mais custosos de todo o meu percurso escolar, mas desde cedo estipulei que não ficaria naquela escola um ano a mais que fosse para além dos 3 necessários. Agora penso o mesmo, mas a frieza está morna e já sinto um quê de saudade dos corredores que a fazem parecer um hospital, da cor amarela que faz com que lhe chamem manicómio. A imponência, o desenho, as funcionalidades, os pormenores, o aconchego de uma escola que não tem nada que ver com aquele aglomerado de cubos que agora se constrói. Os recantos conhecidos e desconhecidos, os livros velhíssimos e riquíssimos, o cinema, a biblioteca que eu, oh sorte!, conheci apenas esta semana, as escadas para a sala de DGD, a ponte... Até os sinais de má criação e vandalismo tatuados nas paredes por alunos desinteressados ganham um novo sentido, como se fossem marcas que não estão em nós, mas que nos deixam qualquer coisa.
Se não fosse pelo edifício, que me deixa cheia de orgulho por ser tão bonito (mesmo estando decrépito, mas nada que bom senso e as consequentes obras não resolvam), era pelos professores. Não pelos alunos, excepção feita aos amigos que, estes sim, têm todas as chances de ficar para a vida. Alguns deles, pelo menos. Não pelos alunos, que a maior parte deles foi lá enfiada por alguém que não percebe nada de escolas nem respeita patrimónios. Deixemo-nos de eufemismos, a maior parte deles faz parte dessa espécie facilmente identificável e dificilmente erradicável: a gunada.
Pelos professores. Por eles, porque a minha escola tem, possivelmente, um dos corpos docentes mais experientes, competentes e ensinadores. Sim, ensinadores, porque estes são daqueles que ensinam e sabem fazê-lo e às vezes ainda colmatam as falhas que vêm de casa, são daqueles que tornam a profissão (mais) nobre por quererem preparar pessoas íntegras e não destituídos, quer mentais, profissionais, de regras... o que for. Tenho todo o respeito por cada um dos meus professores do secundário: por aqueles que, efectivamente, o foram e por todos os outros, que se calhar nem um exame meu vigiaram.
Todos eles, mais os funcionários e alguns alunos e o edifício, inspiração de artista, fazem do meu liceu o fogo que derrete o gelo no qual estavam envoltos os meus quês e achares sobre isto de deixar uma escola. Porque agora já não digo que não vou ter saudades, estaria a mentir com quantos dentes tenho na boca e mentir, neste caso, é o pior que se pode fazer.
Talvez nem todos a conheçam e eu até só tenha travado conhecimento com ela a um mês do fim, mas acho que a minha escola tem a sua mística. Ou então é isso, é a proximidade do fim, ou do novo começo, são os "Dias da Escola", os discursos de pessoas que me fazem admirá-las, enfim, é tudo isto que me deixa com vontade de conciliar a alteração e a constância, a mudança e a imutabilidade.
É que agora falta um mês e faltam alguns dias e nunca "um mês e alguns dias" soou a tanta fugacidade.
Palavras que moem
"Eu sou como os outros. Tu é que tens a mania que eu sou diferente."
Soou mal, caiu ainda pior. Bateu no fundo do peito e abalou as fundações da minha crença nessa tua religião tão peculiar, que não tem um deus mas que tem pecadores e muitos infiéis.
Doeu que tivesses dito aquilo com toda a frieza e sem nenhuma compaixão, sem nenhum cuidado. A verdade é que ao menos o meu cuidado podias ter honrado, porque nunca te pedi retribuição nenhuma que não fosse o respeito.
Custou muito que me contrariasses dessa maneira tão detestável, duplamente detestável, porque não gosto quando me contrarias e gosto ainda menos que te menosprezes quando eu te valorizo como a mais ninguém.
Acho que fiquei sem saber o que te dizer. Será que tu ias ter resposta para quem desmentisse tudo aquilo em que acreditavas há já tanto tempo? Não é tão mau quando nos ameaçam os sonhos e nos destroem o trabalho de dias, meses, anos, de tanta ponderação, de tanto sonhar acordado, de tanto magicar e imaginar?
Já me fizeste isso muitas vezes e até agora aquelas duas frases tinham sido o punhal mais afiado, o ar mais cortante, a chama mais ardente, o túnel mais longo e sem réstia de luz.
Até agora.
Obrigada ao meu amigo (may I?) Z.P.
Falta de personalidade - uma eventual definição
Criei este blog numa fase menos boa da minha vida. Foi coisa de pouca dura, mas sentia-me desanimada e com as ideias todas baralhadas e encontrei na escrita uma forma de as pôr no lugar. Não é que goste particularmente de escrever, porque não gosto. Escrevo quando tenho de o fazer (para a escola, por exemplo) ou quando tenho necessidade de deixar tudo mais arrumadinho na minha cabeça e no meu coração, quando quero eternizar um momento ou quando me apetece dizer-‘lhe’ muito do que tenho cá dentro.
O meu blog é um espacinho muito humilde, tanto em quantidade como em qualidade. Não escrevo diariamente, às vezes passo imenso tempo sem criar entradas novas e a qualidade sei que não é má, porque estaria a ser hipócrita e falsamente modesta, mas também sei que não é nada de transcendente.
Sendo assim, nunca pensei que os meus desvarios e desabafos, transformados em textos, pudessem despertar o apetite de certa(s) e determinada(s) pessoa(s) que, por um qualquer distúrbio de personalidade que eu desconheço (nunca tive muito mais do que 6 aulas de Psicologia), se sentem bem em copiá-los e fazer uso deles como se fossem fruto da sua própria imaginação.
Não tenho nada contra o uso dos meus textos, até fico um bocadinho vaidosa porque, por momentos, sinto-me como se fosse uma escritora reconhecida. Eu própria gosto de colocar nas minhas páginas frases ou textos de outros autores. No entanto, eu CITO as transcrições que faço; coloco aspas ou o texto em itálico para que se perceba que, por muito que aquelas palavras pudessem ser minhas, não o são. São de uma outra pessoa, que teve a mestria de transformar em palavras sentimentos, concepções, estados de espírito que eu, muito ou pouco mais tarde, também experimentei.
Mais grave do que fazer uso de apenas um texto como se fosse seu é quando os ‘plágios’ são sistemáticos, quando se copiam mais do que um texto ou frases de vários textos, ideias e aspectos gráficos. Mais grave será ainda o eventual uso que poderá ser dado àquilo que EU escrevi. Não é, de todo, descabido eu pensar que alguns textos meus possam ter sido usados na escola, numa dissertação sobre um tema qualquer, proposto por um professor qualquer; da mesma forma que me incomoda bastante imaginar, sequer, que alguma da minha escrita mais romântica, digamos, possa ter sido usada para enviar uma carta muito apaixonada ou um e-mail a um namorado ou namorada como se essas palavras viessem, realmente, da outra parte do casal.
No mínimo, este comportamento é (como devo eu dizer?...) nojento. É condenável e é feio e demonstra a falta de personalidade ou os problemas da mesma, caso ainda tenham alguma, que afectam algumas pessoas. Na situação em questão, é também revelador de uma hipocrisia tremenda. Até agora tenho pactuado com ela, mas este post marca a ruptura com esse pacto.
Espero que, quando voltarem aqui para copiarem o que quer que seja, dêem de caras com isto e ganhem um bocadinho de vergonha que seja na cara.
Não gosto nem quero ser prepotente, mas também não se devem fazer confusões entre ser realista e ser prepotente:
“Não é para quem quer, é para quem pode.”
Nunca, na minha vida, esta frase foi tão bem usada.
O meu blog é um espacinho muito humilde, tanto em quantidade como em qualidade. Não escrevo diariamente, às vezes passo imenso tempo sem criar entradas novas e a qualidade sei que não é má, porque estaria a ser hipócrita e falsamente modesta, mas também sei que não é nada de transcendente.
Sendo assim, nunca pensei que os meus desvarios e desabafos, transformados em textos, pudessem despertar o apetite de certa(s) e determinada(s) pessoa(s) que, por um qualquer distúrbio de personalidade que eu desconheço (nunca tive muito mais do que 6 aulas de Psicologia), se sentem bem em copiá-los e fazer uso deles como se fossem fruto da sua própria imaginação.
Não tenho nada contra o uso dos meus textos, até fico um bocadinho vaidosa porque, por momentos, sinto-me como se fosse uma escritora reconhecida. Eu própria gosto de colocar nas minhas páginas frases ou textos de outros autores. No entanto, eu CITO as transcrições que faço; coloco aspas ou o texto em itálico para que se perceba que, por muito que aquelas palavras pudessem ser minhas, não o são. São de uma outra pessoa, que teve a mestria de transformar em palavras sentimentos, concepções, estados de espírito que eu, muito ou pouco mais tarde, também experimentei.
Mais grave do que fazer uso de apenas um texto como se fosse seu é quando os ‘plágios’ são sistemáticos, quando se copiam mais do que um texto ou frases de vários textos, ideias e aspectos gráficos. Mais grave será ainda o eventual uso que poderá ser dado àquilo que EU escrevi. Não é, de todo, descabido eu pensar que alguns textos meus possam ter sido usados na escola, numa dissertação sobre um tema qualquer, proposto por um professor qualquer; da mesma forma que me incomoda bastante imaginar, sequer, que alguma da minha escrita mais romântica, digamos, possa ter sido usada para enviar uma carta muito apaixonada ou um e-mail a um namorado ou namorada como se essas palavras viessem, realmente, da outra parte do casal.
No mínimo, este comportamento é (como devo eu dizer?...) nojento. É condenável e é feio e demonstra a falta de personalidade ou os problemas da mesma, caso ainda tenham alguma, que afectam algumas pessoas. Na situação em questão, é também revelador de uma hipocrisia tremenda. Até agora tenho pactuado com ela, mas este post marca a ruptura com esse pacto.
Espero que, quando voltarem aqui para copiarem o que quer que seja, dêem de caras com isto e ganhem um bocadinho de vergonha que seja na cara.
Não gosto nem quero ser prepotente, mas também não se devem fazer confusões entre ser realista e ser prepotente:
“Não é para quem quer, é para quem pode.”
Nunca, na minha vida, esta frase foi tão bem usada.
Não sei.
Não sei se quero esquecer ou recordar, nem sei se os dois verbos e as acções que lhes são caras se entenderão alguma vez. Não sei se quero esquecer o travo das saudades ou se quero continuar a prová-las, só para depois ter o gosto de lhes dar cabo do ser, como se faz ao ardor pungente da pimenta quando o afogamos num copo meio vazio de água e meio cheio de avidez.
Não sei se sei o que é certo, se a luta compensa ou é desperdício de tempo e de sentimentos, meus e alheios. Não sei se tudo vale mesmo a pena, ou se só o que acaba bem merece esse epíteto de "tudo".
Também não sei como seria se fosse, como seria se tivesse. Não sei se saberia sentir. Não sei como se supõe sobre as vontades de quem não sou, muito menos sei como se concretizam suposições, caso se lhes permita passar da metafísica ao real.
Não sei se deixe tudo à sorte desafortunada do mundo, ou a cargo da minha razão, que tanto vê como cega. Não sei se grave tudo na pedra do meu coração ou se lave tudo com lágrimas, muitas e salgadas, úteis ou escusadas.
Não sei se sei que não sei. Não sei se me lembre de esquecer, ou se me esqueça de lembrar.
Trabalho liberta
Tenho o rabo quadrado de ter passado o dia inteiro sentada a escrever no computador. A picar, como eu e o meu pai gostamos de dizer sobre a minha mãe, embora eu seja bastante mais desenvolta do que ela a processar texto.
Desde as 15h, 15h30 até agora que foi sempre a escrever o relatório de AP, uma página duas páginas três... Inserir anexos, ora, falta isto... Troca de mail's com o prof. para lhe pedir esclarecimentos... (olha que bom, não responde!) Análise de diários de bordo e oh!, respondeu! Certo, agora toca a preencher as grelhas de auto-avaliação... E por hoje, um rotundo CHEGA!
Chega e bem que pode chegar. Afinal, relativamente a esta "área disciplinar", está quase tudo feito e desta vez o "quase" deixa-me pouquíssimo preocupada. Trabalhei que me fartei, hoje. Verdade que não me lembrava de um dia tão produtivo!
E se vos interessa, estou cansada, mas estou, mais do que tudo, bem comigo mesma. Estou animada, estou confiante, estou mais segura, estou mais livre, mesmo que ainda tenha muito que fazer até quarta. O certo é que uma parte... puff!, foi-se, e isso é (ou foi, no caso) um alívio tremendo!
Para além de tudo, e acho que isso é que é o bom da coisa, enquanto trabalho lembro-me pouco (quase nada, mesmo) de outras coisas. E se calhar, a leveza e o ânimo até vêm daí.
Por hoje, CHEGA!
Sunny Day
Já tinha saudades de um dia como hoje. A luz, as cores, a temperatura não muito alta mas suficientemente elevada para deixar os casacões no armário e levar umas roupinhas mais levezinhas.
Já não se perdem duas horas para nos vestirmos nem custa horrores sair da cama e parece que anda toda a gente mais bem disposta, mais jovial. Até escrever me custou menos e enquanto quase toda a turma de Sociologia registou uma produtividade de 0 unidades de produto/trabalhador, eu ainda escrevi umas páginas para o meu relatório.
Se não fosse pedir demasiado, gostaria imenso que dias como o de hoje e o de ontem tenham vindo para ficar. Não é pela roupa nem pelo calçado nem pelos óculos de sol ou perfumes fresquinhos.
A verdade é que assim custa menos, muito menos.
Em duas palavras, ME DO
Nunca mais é quinta, nunca mais é quinta, nunca mais é quinta!
Não tenho medo dos dias, deste ou do que vem depois de amanhã.
Tenho medo de falhar. Tenho medo de ter medo, porque o medo tolda a visão e o sentir.
Não gosto de ter medo.
Tenho que admitir que estou cansada de andar sempre a desejar o dia seguinte, de estar constantemente a fugir de datas com acontecimentos importantes e quase sempre desconfortáveis (sim, serem importantes não quer dizer que sejam particularmente agradáveis), de ansiar feita obstinada pela passagem dos dias, até chegar ao dia X ou ao dia Y.
Queria aproveitar melhor todos os dias da minha vida, porque isto da vida é tudo uma lotaria, só que nesta os prémios não têm de ser necessariamente bons. Podem ser bons, podem ser maus e dentro dos maus, reversíveis ou irreversíveis.
Queria ter coragem para enfrentar os dias todos todos todos, desde o primeiro segundo até ao último, sem ter medo de encontros, testes, trabalhos, prazos, falhas, desilusões.
Queria aproveitar melhor todos os dias da minha vida, porque isto da vida é tudo uma lotaria, só que nesta os prémios não têm de ser necessariamente bons. Podem ser bons, podem ser maus e dentro dos maus, reversíveis ou irreversíveis.
Queria ter coragem para enfrentar os dias todos todos todos, desde o primeiro segundo até ao último, sem ter medo de encontros, testes, trabalhos, prazos, falhas, desilusões.
Não tenho medo dos dias, deste ou do que vem depois de amanhã.
Tenho medo de falhar. Tenho medo de ter medo, porque o medo tolda a visão e o sentir.
Não gosto de ter medo.
Contraste
E o teste de Matemática passou.
É menos uma preocupação, mas ao mesmo tempo, é o agudizar de outra. Não há-de ser nada.
Quanto à dicotomia fraqueza/segurança... Faz-me pensar.
Primeiro, é mais uma prova do apego fortíssimo que eu tenho pelos paradoxos, pelos contrastes. Adoro (ou suponho que adoro porque, infelizmente, não sou muito viajada) países que combinam perfeitamente uma parte muito rural com outra super desenvolvida. Delicio-me com aqueles dias frios em que o Sol se impõe e decide aparecer, mesmo que a personalidade esperada fosse a chuva. Gosto da combinação de ritmos modernos com sons mais tradicionais e populares. Gosto de "quente-e-frio", mas de sentir primeiro o frio do gelado e depois o quente da cobertura de chocolate. Admiro aqueles casais que, de tão diferentes que são, se completam na perfeição. Gosto de passar na Baixa e ver os punks, os metaleiros, os betos e aqueles que de tão simples que são, nem se enquadram em padrão nenhum.
Gosto, a sério que gosto. Até os oxímoros e as antíteses são os meus recursos estilísticos preferidos.
Mas depois, transporto este gostar para a minha esfera, para as minhas relações e fico a pensar se é tudo tão bonito e aprazível como quando vejo os paradoxos dos e nos outros. Se é bom eu sentir-me tão diferente dos outros, se me leva a algum lado pensar sempre, ou quase sempre, de forma diferente. Penso se gosto de me sentir ora no céu, ora no inferno, sempre por acção da mesma pessoa. Penso se será normal sentir incerteza junto de quem me dá mais segurança e tem sempre a última palavra, a palavra mais credível e preciosa.
Penso nisto e depois percebo que sim. Compreendo que, mesmo desconfiando sempre da felicidade completa, porque quando a esmola é grande o santo desconfia, vale a pena acreditar que, da mesma forma que se está bem e se fica na merda, também estamos na merda e de repente ascendemos em glória.
E o friozinho na barriga há-de ter sempre piada. E há-de ser sempre mais cativante um contraste do que uma constante. Há-de fazer sempre mais sentido o contraste porque, lá no fundo, torna tudo mais emocionante, picante, interessante... Porque, lá no fundo também, eu acredito que o contraste entre a minha incerteza e as certezas dos outros se transformará, um dia, na constância da nossa segurança e da nossa certeza.
Solidão
A solidão é uma coisa que me assusta. Assusta-me de morte, sinceramente, porque tem muitas facetas. Melhor dizendo, tem muitas "caras" e pode aparecer ao longo de toda a vida.
Começando pelo fim, qual Benjamin Button, se há coisa que me angustia é o ficar sozinha quando for mais velhota. Espero, portanto, educar correctamente os meus filhos e estar fresquinha da silva e regateira (eu e o meu futuro marido) durante muitos muitos anos para evitar depender deles (dos filhos) ou de quem quer que seja o máximo de tempo possível.
Mas como eu não gosto de pensar na velhice, penso na solidão agora ou, quando muito, daqui a 10-15 anitos. E ponho-me a conjecturar. Será que já terei o meu maridão e uma vida toda agitada, mas feliz? Ou estarei para aqui toda deprimida, já na minha casinha por não querer continuar a ser um fardo na vida dos pais, mas triste e solitária, sem amigos?
Até que chego ao presente.
Tenho mesmo muito medo de ficar sozinha e de perder aqueles de quem eu gosto. Claro que prezo muito os momentos "só-meus" em que penso no dia de hoje e no de amanhã, organizo ideias e ambições, faço uns planos mentais que quase nunca cumpro, mas que ao menos ocupam a minha bela cabecinha morena... até ao momento em que, e isto é a sério, fico deprimida. Fico mesmo! Fico com uma vontade incontrolável de chorar (e quase nunca consigo) porque também não consigo controlar o meu pensamento e dou por mim a lembrar-me de coisas que me deixam terrivelmente angustiada! Afastamentos, perdas, desilusões... De vez em quando um pensamento mais atrevido, mas engraçado, e lá volta aquela imagem terrível de não sei quem a virar-me a cara ou a responder-me torto.
A verdade é que quando passo as minhas tardes na Brasileira com os meus queridos B. e M. quase não me lembro de parvoíces. E se eventualmente me lembrar, são logo corridas a pontapé pela rima da B. ou pela frase cómica do M. Lá está, é aquela companhia de quem não faz só figura de corpo presente.
Tenho mesmo medo da solidão, de ficar sozinha sem querer tal coisa. Não quero que me sufoquem, mas também tremo da cabeça aos pés só de imaginar que algum dia posso ser abandonada por aqueles a quem basta que se sentem ao meu lado para eu me sentir acompanhada (quase ou até mesmo plenamente), mesmo que nem sequer digam nada.
São poucos os que, neste momento, estão nessas condições, mas para mim são muito :)
CHUVA
Estou tão cansada, tão cansada, tão cansada desta chuva e deste frio que até já desisti de reclamar. Eu que tanto gosto de roupa escura, já estou farta de castanho, preto, roxo e cinzento!
Quero rosinha, azul claro, laranja, amarelo, muuuuito verde! Tecidos floridos, levezinhos, aqueles camiseiros adoráveis com os quais ficamos sempre "chiquíssimas, amigas". E quero tanto andar com as minhas queridas sandálias de cunha... Ai que saudades que eu tenho delas!
Ultrapassando este breve devaneio, a verdade é que já aceito o Inverno, a chuva e o guarda-chuva com mais benevolência... paciência, vá! Mesmo que adore o Verão e sinta imenso a sua falta. No fundo, é inevitável: algum dia teria de chover e mal de nós se assim não fosse! Portanto, o importante é saber tirar partido das gabardinas e casacões e do guarda-chuvinha, principalmente porque esse até serve para dar uma mocada em quem pisar o risco. :P
Resumindo (e a sério que não sou nada epicurista, muito menos sou comodista a ponto de nem sequer sonhar ou querer mais e melhor do que aquilo que tenho):
Há coisas que são incontornáveis. Dê por onde der, algum dia teremos de as viver, em algum momento da nossa vida teremos que as conhecer, pelo menos um encontro que seja havemos de ter com elas.
É como a chuva. Podemos andar sempre por debaixo dos cobertos, mas algum pingo frio nos há-de cair nas orelhas. Podemos contar com ela no Inverno e ela até aparecer fora de tempo, mas vem. Vem, chega, cai, faz-se sentir... e nós aceitamos, pois que remédio.
Scarlett Johansson & Jonathan Rhys Meyers, Match Point
DOIS
Contigo tenho dois pesos e duas medidas. Vejo o meu lado de uma forma e o teu de outra e talvez não devesse ser assim, porque não sou justa comigo nem honesta contigo.
Mas não faz mal. Não faz mal porque tu és tu, eu sou eu e TU para MIM és TU, ainda que, para ti, eu não seja eu.
Complexo? Nem pensar! :P
Contigo tenho dois pesos e duas medidas, uma dualidade de critérios exarcebada.
Mas não faz mal, eu não me importo. Mortifico-me agora, mas vou sentindo o gosto agridoce da espera enquanto caminho para a terra, ou felicidade, prometida.
Mesmo que esta espera não te diga respeito.
É que... Sabes, a aprendizagem até diz! ;)
Mas não faz mal. Não faz mal porque tu és tu, eu sou eu e TU para MIM és TU, ainda que, para ti, eu não seja eu.
Complexo? Nem pensar! :P
Contigo tenho dois pesos e duas medidas, uma dualidade de critérios exarcebada.
Mas não faz mal, eu não me importo. Mortifico-me agora, mas vou sentindo o gosto agridoce da espera enquanto caminho para a terra, ou felicidade, prometida.
Mesmo que esta espera não te diga respeito.
É que... Sabes, a aprendizagem até diz! ;)
DANIEL CRAIG!
"I've got a voice inside me saying give it up
(...)
I need security, you favour chance
I ponder everything, you advance
You bring the world to me and I just sneer
Standing next to you I disappear"
Disappear, Porcupine Tree
I need security, you favour chance
I ponder everything, you advance
You bring the world to me and I just sneer
Standing next to you I disappear"
Disappear, Porcupine Tree
Não joga. Não tem jogado, pelo menos.
Aquilo que se procura é muito diferente, mas aquilo de que se precisa talvez seja o mesmo. Ai como seria de extrema utilidade que se percebesse esta pequena subtileza!
Segurança? Quero toda. Estabilidade, companheirismo, os dois ombros amigos. Quero dizer tudo o que me apetece, conversar tanto sobre o acontecimento mais insignificante do dia como sobre a decisão mais difícil e determinante dos últimos tempos.
Pensar, pensar e pensar... Planear, reflectir, ponderar. Eu gosto disso. A mais é castrador e a menos é assustador, mas na dose certa é essencial.
"I've got a voice inside me saying give it up".
E fala cada vez mais alto... A dicção é cada vez melhor e há muito que deixou de soar como se viesse do fundo de um poço.
______________________
Adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro adoro (...)
Javier Bardem .
Is it?
The truth is... Well, I don't know.
Iniciado com distinção que está este post, adopto um tom sério para dizer que não sei o que vai ser. Neste momento e nesta verdade, que são só meus e que tento não impingir a ninguém, eu não sei o que é que vai acontecer.
Eu queria que corresse tudo pelo melhor, queria receber aquele recado tão aguardado e ainda assim surpreendente de tão doce que seria. Queria consertar tudo o que disse a mais e o que disse a menos, queria recuperar o tempo e as oportunidades douradas que perdi. Queria ter mantido sempre as rédeas bem presas na minha mão. Queria deixar esses incrédulos todas na merda e de cara à banda e dizer-lhes "Ajoelhem-se, infiéis! Rendam-se à evidência da minha conquista e da minha perseverança!" e depois festejar com uns turpilóquios quaisquer e com a construção DO projecto fadado para o sucesso honesto e puro dos negócios alicerçados em sentimentos verdadeiros. Queria a lógica, embora acetinada, do "quero, posso e mando", queria que uns tentassem esquecer-me e que outros se importassem em preservar-me na sua lembrança. Queria que inventassem um nome carinhoso só para mim. No caso de já não haver nenhum que fosse inédito, aceitaria um que fosse banal, mas que fosse dito como se alguém tivesse passado horas e horas a pensar nele, a juntar letrinhas, a experimentar sons, a adoçar as sílabas átonas e a apimentar a tónica.
Eu que tanto gostava de antíteses, arrependo-me agora de ter cultivado este amor por tudo o que seja paradoxal e constrastante.
Ainda assim, diz-se que não há amor como o primeiro.
Da mesma forma que não há versos como os de Neruda:
"Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo (...)"
Subscrever:
Mensagens (Atom)