Não sei.

Não sei se quero esquecer ou recordar, nem sei se os dois verbos e as acções que lhes são caras se entenderão alguma vez. Não sei se quero esquecer o travo das saudades ou se quero continuar a prová-las, só para depois ter o gosto de lhes dar cabo do ser, como se faz ao ardor pungente da pimenta quando o afogamos num copo meio vazio de água e meio cheio de avidez.
Não sei se sei o que é certo, se a luta compensa ou é desperdício de tempo e de sentimentos, meus e alheios. Não sei se tudo vale mesmo a pena, ou se só o que acaba bem merece esse epíteto de "tudo".
Também não sei como seria se fosse, como seria se tivesse. Não sei se saberia sentir. Não sei como se supõe sobre as vontades de quem não sou, muito menos sei como se concretizam suposições, caso se lhes permita passar da metafísica ao real.
Não sei se deixe tudo à sorte desafortunada do mundo, ou a cargo da minha razão, que tanto vê como cega. Não sei se grave tudo na pedra do meu coração ou se lave tudo com lágrimas, muitas e salgadas, úteis ou escusadas.
Não sei se sei que não sei. Não sei se me lembre de esquecer, ou se me esqueça de lembrar.

Trabalho liberta


Tenho o rabo quadrado de ter passado o dia inteiro sentada a escrever no computador. A picar, como eu e o meu pai gostamos de dizer sobre a minha mãe, embora eu seja bastante mais desenvolta do que ela a processar texto.

Desde as 15h, 15h30 até agora que foi sempre a escrever o relatório de AP, uma página duas páginas três... Inserir anexos, ora, falta isto... Troca de mail's com o prof. para lhe pedir esclarecimentos... (olha que bom, não responde!) Análise de diários de bordo e oh!, respondeu! Certo, agora toca a preencher as grelhas de auto-avaliação... E por hoje, um rotundo CHEGA!

Chega e bem que pode chegar. Afinal, relativamente a esta "área disciplinar", está quase tudo feito e desta vez o "quase" deixa-me pouquíssimo preocupada. Trabalhei que me fartei, hoje. Verdade que não me lembrava de um dia tão produtivo!

E se vos interessa, estou cansada, mas estou, mais do que tudo, bem comigo mesma. Estou animada, estou confiante, estou mais segura, estou mais livre, mesmo que ainda tenha muito que fazer até quarta. O certo é que uma parte... puff!, foi-se, e isso é (ou foi, no caso) um alívio tremendo!

Para além de tudo, e acho que isso é que é o bom da coisa, enquanto trabalho lembro-me pouco (quase nada, mesmo) de outras coisas. E se calhar, a leveza e o ânimo até vêm daí.

Por hoje, CHEGA!

Sunny Day


Já tinha saudades de um dia como hoje. A luz, as cores, a temperatura não muito alta mas suficientemente elevada para deixar os casacões no armário e levar umas roupinhas mais levezinhas.

Já não se perdem duas horas para nos vestirmos nem custa horrores sair da cama e parece que anda toda a gente mais bem disposta, mais jovial. Até escrever me custou menos e enquanto quase toda a turma de Sociologia registou uma produtividade de 0 unidades de produto/trabalhador, eu ainda escrevi umas páginas para o meu relatório.

Se não fosse pedir demasiado, gostaria imenso que dias como o de hoje e o de ontem tenham vindo para ficar. Não é pela roupa nem pelo calçado nem pelos óculos de sol ou perfumes fresquinhos.
A verdade é que assim custa menos, muito menos.

Em duas palavras, ME DO

Nunca mais é quinta, nunca mais é quinta, nunca mais é quinta!

Tenho que admitir que estou cansada de andar sempre a desejar o dia seguinte, de estar constantemente a fugir de datas com acontecimentos importantes e quase sempre desconfortáveis (sim, serem importantes não quer dizer que sejam particularmente agradáveis), de ansiar feita obstinada pela passagem dos dias, até chegar ao dia X ou ao dia Y.
Queria aproveitar melhor todos os dias da minha vida, porque isto da vida é tudo uma lotaria, só que nesta os prémios não têm de ser necessariamente bons. Podem ser bons, podem ser maus e dentro dos maus, reversíveis ou irreversíveis.
Queria ter coragem para enfrentar os dias todos todos todos, desde o primeiro segundo até ao último, sem ter medo de encontros, testes, trabalhos, prazos, falhas, desilusões.

Não tenho medo dos dias, deste ou do que vem depois de amanhã.
Tenho medo de falhar. Tenho medo de ter medo, porque o medo tolda a visão e o sentir.
Não gosto de ter medo.