Contraste


E o teste de Matemática passou.
É menos uma preocupação, mas ao mesmo tempo, é o agudizar de outra. Não há-de ser nada.

Quanto à dicotomia fraqueza/segurança... Faz-me pensar.
Primeiro, é mais uma prova do apego fortíssimo que eu tenho pelos paradoxos, pelos contrastes. Adoro (ou suponho que adoro porque, infelizmente, não sou muito viajada) países que combinam perfeitamente uma parte muito rural com outra super desenvolvida. Delicio-me com aqueles dias frios em que o Sol se impõe e decide aparecer, mesmo que a personalidade esperada fosse a chuva. Gosto da combinação de ritmos modernos com sons mais tradicionais e populares. Gosto de "quente-e-frio", mas de sentir primeiro o frio do gelado e depois o quente da cobertura de chocolate. Admiro aqueles casais que, de tão diferentes que são, se completam na perfeição. Gosto de passar na Baixa e ver os punks, os metaleiros, os betos e aqueles que de tão simples que são, nem se enquadram em padrão nenhum.
Gosto, a sério que gosto. Até os oxímoros e as antíteses são os meus recursos estilísticos preferidos.

Mas depois, transporto este gostar para a minha esfera, para as minhas relações e fico a pensar se é tudo tão bonito e aprazível como quando vejo os paradoxos dos e nos outros. Se é bom eu sentir-me tão diferente dos outros, se me leva a algum lado pensar sempre, ou quase sempre, de forma diferente. Penso se gosto de me sentir ora no céu, ora no inferno, sempre por acção da mesma pessoa. Penso se será normal sentir incerteza junto de quem me dá mais segurança e tem sempre a última palavra, a palavra mais credível e preciosa.

Penso nisto e depois percebo que sim. Compreendo que, mesmo desconfiando sempre da felicidade completa, porque quando a esmola é grande o santo desconfia, vale a pena acreditar que, da mesma forma que se está bem e se fica na merda, também estamos na merda e de repente ascendemos em glória.

E o friozinho na barriga há-de ter sempre piada. E há-de ser sempre mais cativante um contraste do que uma constante. Há-de fazer sempre mais sentido o contraste porque, lá no fundo, torna tudo mais emocionante, picante, interessante... Porque, lá no fundo também, eu acredito que o contraste entre a minha incerteza e as certezas dos outros se transformará, um dia, na constância da nossa segurança e da nossa certeza.

Solidão


A solidão é uma coisa que me assusta. Assusta-me de morte, sinceramente, porque tem muitas facetas. Melhor dizendo, tem muitas "caras" e pode aparecer ao longo de toda a vida.
Começando pelo fim, qual Benjamin Button, se há coisa que me angustia é o ficar sozinha quando for mais velhota. Espero, portanto, educar correctamente os meus filhos e estar fresquinha da silva e regateira (eu e o meu futuro marido) durante muitos muitos anos para evitar depender deles (dos filhos) ou de quem quer que seja o máximo de tempo possível.

Mas como eu não gosto de pensar na velhice, penso na solidão agora ou, quando muito, daqui a 10-15 anitos. E ponho-me a conjecturar. Será que já terei o meu maridão e uma vida toda agitada, mas feliz? Ou estarei para aqui toda deprimida, já na minha casinha por não querer continuar a ser um fardo na vida dos pais, mas triste e solitária, sem amigos?

Até que chego ao presente.
Tenho mesmo muito medo de ficar sozinha e de perder aqueles de quem eu gosto. Claro que prezo muito os momentos "só-meus" em que penso no dia de hoje e no de amanhã, organizo ideias e ambições, faço uns planos mentais que quase nunca cumpro, mas que ao menos ocupam a minha bela cabecinha morena... até ao momento em que, e isto é a sério, fico deprimida. Fico mesmo! Fico com uma vontade incontrolável de chorar (e quase nunca consigo) porque também não consigo controlar o meu pensamento e dou por mim a lembrar-me de coisas que me deixam terrivelmente angustiada! Afastamentos, perdas, desilusões... De vez em quando um pensamento mais atrevido, mas engraçado, e lá volta aquela imagem terrível de não sei quem a virar-me a cara ou a responder-me torto.

A verdade é que quando passo as minhas tardes na Brasileira com os meus queridos B. e M. quase não me lembro de parvoíces. E se eventualmente me lembrar, são logo corridas a pontapé pela rima da B. ou pela frase cómica do M. Lá está, é aquela companhia de quem não faz só figura de corpo presente.

Tenho mesmo medo da solidão, de ficar sozinha sem querer tal coisa. Não quero que me sufoquem, mas também tremo da cabeça aos pés só de imaginar que algum dia posso ser abandonada por aqueles a quem basta que se sentem ao meu lado para eu me sentir acompanhada (quase ou até mesmo plenamente), mesmo que nem sequer digam nada.


São poucos os que, neste momento, estão nessas condições, mas para mim são muito :)

CHUVA

Estou tão cansada, tão cansada, tão cansada desta chuva e deste frio que até já desisti de reclamar. Eu que tanto gosto de roupa escura, já estou farta de castanho, preto, roxo e cinzento!
Quero rosinha, azul claro, laranja, amarelo, muuuuito verde! Tecidos floridos, levezinhos, aqueles camiseiros adoráveis com os quais ficamos sempre "chiquíssimas, amigas". E quero tanto andar com as minhas queridas sandálias de cunha... Ai que saudades que eu tenho delas!

Ultrapassando este breve devaneio, a verdade é que já aceito o Inverno, a chuva e o guarda-chuva com mais benevolência... paciência, vá! Mesmo que adore o Verão e sinta imenso a sua falta. No fundo, é inevitável: algum dia teria de chover e mal de nós se assim não fosse! Portanto, o importante é saber tirar partido das gabardinas e casacões e do guarda-chuvinha, principalmente porque esse até serve para dar uma mocada em quem pisar o risco. :P
Resumindo (e a sério que não sou nada epicurista, muito menos sou comodista a ponto de nem sequer sonhar ou querer mais e melhor do que aquilo que tenho):

Há coisas que são incontornáveis. Dê por onde der, algum dia teremos de as viver, em algum momento da nossa vida teremos que as conhecer, pelo menos um encontro que seja havemos de ter com elas.


É como a chuva. Podemos andar sempre por debaixo dos cobertos, mas algum pingo frio nos há-de cair nas orelhas. Podemos contar com ela no Inverno e ela até aparecer fora de tempo, mas vem. Vem, chega, cai, faz-se sentir... e nós aceitamos, pois que remédio.


Scarlett Johansson & Jonathan Rhys Meyers, Match Point

DOIS

Contigo tenho dois pesos e duas medidas. Vejo o meu lado de uma forma e o teu de outra e talvez não devesse ser assim, porque não sou justa comigo nem honesta contigo.
Mas não faz mal. Não faz mal porque tu és tu, eu sou eu e TU para MIM és TU, ainda que, para ti, eu não seja eu.

Complexo? Nem pensar! :P

Contigo tenho dois pesos e duas medidas, uma dualidade de critérios exarcebada.
Mas não faz mal, eu não me importo. Mortifico-me agora, mas vou sentindo o gosto agridoce da espera enquanto caminho para a terra, ou felicidade, prometida.

Mesmo que esta espera não te diga respeito.
É que... Sabes, a aprendizagem até diz! ;)

DANIEL CRAIG!