Não me apetece nada interpretar o papel de coitadinha porque pode acontecer que eu seja, isso sim!, uma grande chata. Um ser terrivelmente maçador, com o dom envenenado de não distinguir a ténue barreira que existe entre preocupação e possessão, entre cuidado e controlo.
Tenho muito medo da obsessão, da obstinação, da cegueira mental, da acrasia e do comodismo doentio que se apodera de gente que parece tão astuta, tão iluminada, tão livre, tão espiritualmente aberta, tão volátil e receptiva a novas emoções, vivências, experiências. Acontece frequentemente, mas só me apercebo quando me dou ao trabalho de pensar no assunto. Conheço pessoas vitimadas por esta síndrome e o que mais estigma me causa é que eu, involuntariamente, acabo por me ressentir também. Se calhar, mais até do que os "doentinhos teimosos" porque eles... Bem, eles sentem-se bem e acham que aquilo que dizem, fazem, seguem, proclamam, defendem, anunciam, (...), é que está imaculadamente certo. Se eu discordo, contesto ou tento alterar o curso dos acontecimentos dizem que sou irracional ou que não me consigo dedicar a nada.
Vai daí, eu pergunto: por que raio é que eu não tenho direito à minha pequena teimosia? E por que é que não me deixam dedicar àquilo que me daria imenso, pleno, extremo gosto?
Geralmente, nunca faço valer a minha vontade. Nem os meus apetites. Nem os meus ímpetos. Esbarro sempre em suposições e em opções bi ou trifurcadas provenientes desta minha mente tão veloz, que às vezes me angustia de tão pródiga que é.
E é isso. Eu tenho medo daquilo que não conheço. Como nunca me deixaram ser obstinada com algo ou alguém, porque me cortaram logo as asinhas e afundaram as minhas bases, eu tenho medo de ficar obcecada, obstinada, acomodada. Mais do que isso, tenho medo de ficar SAUDAVELMENTE obcecada, obstinada, acomodada.
Fazia-me falta (mais) alguma certeza. As que tenho não são assim tantas quanto isso e de vez em quando agitam-se mais do que a bandeira hasteada em frente à Câmara Municipal de uma terrinha qualquer muito ventosa. Fazia-me falta um conforto diferente, um abraço diferente, uma palavra banal, mas que soasse diferente. E não, não estou carente.
NEXT.
Espero bem que na quarta não esteja um frio-insuportável-congelador-de-ossos-e-encarquilhador-de-costelas. Obrigada.