Não sei se quero esquecer ou recordar, nem sei se os dois verbos e as acções que lhes são caras se entenderão alguma vez. Não sei se quero esquecer o travo das saudades ou se quero continuar a prová-las, só para depois ter o gosto de lhes dar cabo do ser, como se faz ao ardor pungente da pimenta quando o afogamos num copo meio vazio de água e meio cheio de avidez.
Não sei se sei o que é certo, se a luta compensa ou é desperdício de tempo e de sentimentos, meus e alheios. Não sei se tudo vale mesmo a pena, ou se só o que acaba bem merece esse epíteto de "tudo".
Também não sei como seria se fosse, como seria se tivesse. Não sei se saberia sentir. Não sei como se supõe sobre as vontades de quem não sou, muito menos sei como se concretizam suposições, caso se lhes permita passar da metafísica ao real.
Não sei se deixe tudo à sorte desafortunada do mundo, ou a cargo da minha razão, que tanto vê como cega. Não sei se grave tudo na pedra do meu coração ou se lave tudo com lágrimas, muitas e salgadas, úteis ou escusadas.
Não sei se sei que não sei. Não sei se me lembre de esquecer, ou se me esqueça de lembrar.