Sabia-o de cor. De todos os homens que lhe tinham passado na vida, uns a correr, outros em velocidade de cruzeiro, aquele era o único que já não lhe escondia segredos. Pelo contrário, guardava-os com ela.
Não havia nenhuma expressão órfã, cada mudança nas feições dele fazia-a adivinhar o redemoinho que lhe arrasava o peito ou o torpor doce de quem está em paz com os outros, mas principalmente consigo. Em ninguém mais surgia aquela covinha no lado direito da face, que ia aumentando enquanto ele passava do sorriso à gargalhada. Se Deus lhe roubasse os olhos da cara, ela usaria os das mãos. De entre 1000 homens, ela acharia aquele que agora sabia seu, bastando para isso percorrer-lhe o peito, que era seu cofre, os braços, que eram seu forte. Ninguém mais tinha aquele tom, a pele de ninguém cheirava como a dele.
Nenhum homem é só corpo e mais admirável que saber de memória as linhas do corpo, é saber os traços da alma. E ela sabia os dele. Sabia o que o comovia, o que o afundava num estado de exasperação profunda. Sabia o que o acalmava, sabia o efeito que as palavras bonitas e sinceras tinham no seu génio e usava-as como tempero naquela receita em que ambos se envolviam, se misturavam, se apimentavam e salgavam sem que nunca passassem do ponto de rebuçado.
Ela sabia-o de cor, corpo e alma, o que é físico e o que é mais que isso. Sabia tudo e não tinha medo do que sabia, das sombras que repousavam inquietas debaixo do sol da sua vida. Sabia que o amava, a cada dia aprendia novas formas de amor e ele era o melhor professor. O melhor professor para a aluna mais aplicada. O melhor ouvinte para uma apaniguada da confissão. O melhor amigo para a cultora mais atenta da semente da amizade. O melhor amante para a mulher mais amável. A peça em falta para o puzzle por completar. O cigarro para o café, a framboesa para o chocolate, a água para o deserto, o pão para a fome!
Sabia-o de cor mesmo no dia em que ele partiu. Para sempre. Ele partiu e, porque ela só o sabia a ele, deixou-a sem saber nada de si.
Ficaram a ignorância, o vazio, a perdição. Não é nada que se saiba, é tudo o que não se quer, ou devia, sentir.
Não havia nenhuma expressão órfã, cada mudança nas feições dele fazia-a adivinhar o redemoinho que lhe arrasava o peito ou o torpor doce de quem está em paz com os outros, mas principalmente consigo. Em ninguém mais surgia aquela covinha no lado direito da face, que ia aumentando enquanto ele passava do sorriso à gargalhada. Se Deus lhe roubasse os olhos da cara, ela usaria os das mãos. De entre 1000 homens, ela acharia aquele que agora sabia seu, bastando para isso percorrer-lhe o peito, que era seu cofre, os braços, que eram seu forte. Ninguém mais tinha aquele tom, a pele de ninguém cheirava como a dele.
Nenhum homem é só corpo e mais admirável que saber de memória as linhas do corpo, é saber os traços da alma. E ela sabia os dele. Sabia o que o comovia, o que o afundava num estado de exasperação profunda. Sabia o que o acalmava, sabia o efeito que as palavras bonitas e sinceras tinham no seu génio e usava-as como tempero naquela receita em que ambos se envolviam, se misturavam, se apimentavam e salgavam sem que nunca passassem do ponto de rebuçado.
Ela sabia-o de cor, corpo e alma, o que é físico e o que é mais que isso. Sabia tudo e não tinha medo do que sabia, das sombras que repousavam inquietas debaixo do sol da sua vida. Sabia que o amava, a cada dia aprendia novas formas de amor e ele era o melhor professor. O melhor professor para a aluna mais aplicada. O melhor ouvinte para uma apaniguada da confissão. O melhor amigo para a cultora mais atenta da semente da amizade. O melhor amante para a mulher mais amável. A peça em falta para o puzzle por completar. O cigarro para o café, a framboesa para o chocolate, a água para o deserto, o pão para a fome!
Sabia-o de cor mesmo no dia em que ele partiu. Para sempre. Ele partiu e, porque ela só o sabia a ele, deixou-a sem saber nada de si.
Ficaram a ignorância, o vazio, a perdição. Não é nada que se saiba, é tudo o que não se quer, ou devia, sentir.
14 de Julho de 2009
Adriana de Ascensão Pereira